No total, são mais de 6 mil consumidores que se sentem prejudicados com a compra de produtos em lojas virtuais que importam diretamente da China. Nos sites de vendas os consumidores são atraídos por preços baixíssimos e pela aparente facilidade de obter produtos eletrônicos importados como câmera digital, celular e outros, entregue em sua residência.
No Reclame Aqui estão cadastradas mais de quatorze lojas virtuais que oferecem esse serviço de importação diretamente de Hong Kong. Somente essas, reúnem exatamente 6.132 reclamações de consumidores de diversas localidades do Brasil. Com o número cada vez maior, a abertura de lojas virtuais neste modelo cresce como um “negócio da China”, onde na mesma proporção surgem consumidores relatando seus prejuízos após comprar pela internet.
No caso dos importados, dezenas desses sites oferecem um serviço falho há anos e continuam operando normalmente, alegando cumprir com o contrato aceito pelo próprio consumidor no momento da compra. Em contrapartida, consumidores diariamente arcam com o prejuízo pelo longo atraso de entrega do produto, ou do produto nunca entregue, da mercadoria com defeito, da inexistência de atendimento pelos telefones e chats, e informações desencontradas encaminhadas via e-mail pelas empresas.
Prazos
Com o slogan “a entrega de seu produto é 100% garantida”, a Compre da China (Fênix do Oriente) lidera o ranking de reclamações cadastradas no Reclame Aqui. As queixas apresentadas se dão, principalmente, pelo não cumprimento dos prazos estabelecidos no contrato de venda, de 20 a 45 dias. Consumidores relatam que nem mesmo a confirmação do pagamente eles receberam da loja virtual, que, conforme o contrato deve ser feito em 5 dias úteis.
Outro prazo não cumprido pela empresa é o fornecimento do código de rastreamento da mercadoria. “Comprei um celular em novembro de 2009, depois da confirmação do pagamente nunca mais consegui contato com a Compre da China”, relata um consumidor no site Reclame Aqui, que pagou pelo produto há 4 meses e ainda não recebeu.
Em outros casos, há relatos de espera por produtos pagos há sete meses e outros que devem completar um ano e ainda não foram entregue. Na esperança de relevar o atraso e finalmente receber o produto, os consumidores esperam todo esse prazo para então aceitar o prejuízo e recorrer à justiça.
O advogado João Campos, especialista em Direito do Consumidor, alerta para as lojas virtuais com o domínio “.com”, “net” e outros que não terminem com “.br”. “Se o consumidor tiver algum problema com esses sites de vendas, não será nem possível ajuizar uma ação, pois nesses casos não há uma localidade certa da sede para enviar sequer uma intimação”, explica.
Frete “grátis”
Todo produto importado se submete aos Impostos de Importação ao entrar no país, como forma de nacionalização do produto, mas conforme consumidores essa informação não consta de forma clara nas lojas virtuais. Algumas divulgam que “alguns produtos sofrerão tributação”, porém, todos os que elas oferecem são tributados na importação, deixando assim a dúvida para o consumidor. Esse imposto por lei é de responsabilidade do comprador, que nem sempre lê o contrato com a devida atenção, já que em diversos momentos encontra-se a mensagem de frete grátis em destaque nos sites e nenhuma mensagem de aviso sobre o imposto.
Pedro Alburquerque, de Fortaleza (CE), comprou um celular Mp11 Eyo T800i com TV também na Compre da China e se sentiu enganado ser obrigado a pagar R$ 90 para retirar o produto no Correio.
“Eles falam que o frete é grátis e não informam claramente sobre outros impostos, depois temos que tirar do nosso bolso essa taxa e gastar com a locomoção para retirar o produto. Além disso, estou esperando desde janeiro e somente em março me avisaram que a mercadoria estava há dias no Correio da minha cidade. Descaso total”, afirma.
O advogado Francisco Luis Nanci Fluminhan, integrante da Comissão de Defesa do Consumidor da Ordem dos Advogados do Brasil, explica que neste caso as empresas não operam de forma ilegal, pois o frete e a taxa de importação têm origens diferentes. Mas, alerta as empresas, que não devem dificultar o acesso a informações importantes do contrato, e, que deveriam deixar a cláusula referente ao imposto em destaque para facilitar sua visibilidade e entendimento.
Atendimento
Outra prática comum entre as lojas virtuais que importam da China, cadastradas no Reclame Aqui, relatadas nas reclamações dos consumidores é o difícil contato com essas empresas. Mesmo com centrais de atendimentos e números disponibilizados nas páginas de vendas, em sua maioria ninguém atende ou uma mensagem é ouvida avisando que o número está desativado. Os chats, geralmente, nem são considerados canais de comunicação pela dificuldade de acesso.
Reginaldo Seviro, de Viana (ES), comprou na Mptudo.com no mês de janeiro e relata que até agora não consegue contato com a empresa para cancelar a compra. “Estou me sentindo enganado, pois além deles não me mandarem o produto não me devolvem o que paguei, R$ 375,99”, desabafa.
O consumidor informa ainda, que já recorreu ao PROCON, mas devido ao domínio .com e a dificuldade de contato com a empresa o órgão não pode iniciar uma ação. “Já não sei a quem recorrer”, completa.
A velha máxima do barato que sai caro, do lado de consumidores sempre buscando melhores ofertas, e de outro lado empresas que se apóiam em práticas que, se não ilegais, não são totalmente transparentes e alinhada com a cultura do consumidor brasileiro.
Fonte:http://www.reclameaqui.com.br